João Vicente Goulart : “Estamos contando para as novas gerações”
"A Comissão da verdade nada mais é do que a restauração da verdade. Não conseguimos sequer punir. Estamos contando para as novas gerações", aponta como interessado nas investigações. "Meu pai já dizia que o exílio é uma invenção do demônio, pois mata as pessoas enquanto se está vivo. O Jango era um brasileiro, presidente eleito, constitucional, derrubado por um golpe de estado e morava do outro lado da fronteira. Muitas pessoas que estavam no Uruguai o viam de longe, mas não se aproximavam com medo de serem presos na fronteira. Ou seja, de uma hora para outra você se transforma em um zumbi", relembra.
Apesar dos crimes não serem mais passíveis de punição no Brasil, há peças neste quebra-cabeças que poderão ser utilizadas em processos, por exemplo, na Argentina. Um dos pontos a serem esclarecidos é a própria morte de Jango. A exumação do corpo vai apontar se a causa foi natural ou se ocorreu envenenamento. Para isso participarão peritos da Polícia Federal do Brasil e de outros países já que a Operação Condor investigava o ex-presidente através de agentes também na Argentina e Uruguai.
Na avaliação de João Vicente, a inexistência de penas para os torturadores daquela época gera ainda consequentes reflexos no país. "A tortura continua. Não é só a perseguição dos políticos. Não foram punidos aqueles que torturaram e a polícia assimilou este tipo de trabalho, que é a discriminação do favelado", aponta. Além da caça dos militares, ele também exalta a perseguição da mídia. Em quase um ano, mais de 230 filmetes foram produzidos contra o governo de Jango.
“Usaram o poder da imprensa para derrubar a Constituição. Uma coisa é a liberdade. Outra é a libertinagem. Acho que não é preciso fazer regulamentação da lei. Mas temos que apressar a responsabilidade de quem mente”, sublinha. “Particularmente sou contra qualquer tipo de controle da mídia”, também garante. Ele ainda defende o Jornalismo como ferramenta para denunciar as irregularidades principalmente pela Internet. “No Regime Militar também existia corrupção, mas nunca aparecia”, coloca.
PRAÇAS E LOGRADOUROS - Em coletiva de imprensa na Casa da Cultura Padre Bernardo Junkes, João Vicente se manifestou também sobre o processo de mudança em locais públicos cujas nomenclaturas fazem referências a ditadores. Em Içara, a discussão ocorre quanto a Praça Castelo Branco. A proposta para ser homenageado então João Goulart foi acelerada pela visita do filho de Jango. "A homenagem em ruas, logradouros e praças deve ser de origem popular. Acho que cada mudança dessas deveria ocorrer um pequeno plebiscito para saber se isto é a vontade da população. O que penso é na importância da comunidade saber quem é Castelo Branco e quem é João Goulart", pontua
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