sábado, 21 de março de 2009

Qualquer semelhança é mera coincidência: Senado feudal (Sebastião Nery)

Piancó é cidade ilustre e não é de graça. Foi lá que a Coluna Prestes travou o único grande combate no Nordeste, morrendo, entre outros, o padre Aristides, comandante da resistência. O batalhão da Coluna estava sob o comando de um tenente baixinho e valente: Cordeiro de Farias.

João Pereira Gomes, promotor, começou carreira em Piancó. Na feira, passava o coronel Chico Nitão: 2 revólveres na cintura e uma cartucheira na barriga. O promotor chamou o cabo:

- Seu cabo, vá desarmar aquele indivíduo.

O cabo arregalou os olhos:

- Senhor doutor promotor, desarmar logo o coronel Chico Nitão?
- E eu quero saber quem é o coronel Chico Nitão? Vá desarmar, é a lei.
Piancó

O cabo foi buscar o delegado, tenente Sobreira, que se espantou:

- Doutor promotor, o senhor mandou desarmar o coronel Chico Nitão?
- Mandei, tenente. Não me interessa quem seja. É a lei.
- Doutor promotor, o coronel é gente famosa, herói da região, combateu vários grupos cangaceiros, Lampião, Antonio Silvino, até com a Coluna Prestes ele brigou. Ele tem esse privilégio de andar armado.
- E eu com isso? É a lei. Vou cumprir a lei.
- Doutor promotor, alguns anos atrás apareceu por aqui um promotor igualzinho ao senhor, jovem e homem da lei. Mandou desarmar o coronel Chico Nitão e o coronel respondeu: "Diga ao doutor promotor que as minhas armas só saem da cintura debaixo de festejo". E o promotor morreu.
- Bem, tenente, sendo assim, suspenda a operação, que vou à capital conversar com o governador.

João Pereira Gomes, promotor e homem da lei, foi à capital e nunca mais voltou a Piancó para desarmar o coronel Chico Nitão.
Chico Nitão

Essa história, que Piancó conhece e o saudoso José Américo de Almeida contava, tem 80 anos. É de antes da Revolução de 30. Um tempo muito antigo, de poderes muito atrabiliários. E o Brasil era um país feudal.

Hoje, mudou. O Brasil há muitos anos deixou de ser um país feudal para ser um país legal. Tem uma Constituição jovem e moderna. Tem instituições discutidas e aprovadas por uma imensa maioria eleita pela Nação. Não há mais coronel Chico Nitão decidindo o que quer e o que não quer, o que pode e o que não pode. O tempo dos Chico Nitão passou.

O Senado precisa decidir se é um Senado Federal ou Senado Feudal.
Jarbas

O senador Jarbas Vasconcelos não precisava ser tão vidente, quando disse que o senador José Sarney ia querer fazer do Senado "um grande Maranhão". Não deixa de ser injustiça com o Maranhão. Podia ser Amapá.

Não passou um mês para o Senado Feudal de Sarney aparecer:

"Seguranças do Senado protegendo propriedades de Sarney no Maranhão, o que já seria esquisito, mas fica pior porque o domicílio eleitoral dele é outro, o Amapá. E passagens da cota parlamentar desviadas para amigos de Roseana passarem fins de semana em Brasília... O senador Tião Viana que emprestou o celular do Senado para a filha usar em viagem ao México. Uma economia e tanto para a família. Quem paga a conta é você".

Será que a Eliane Cantanhede exagerou? A "Folha" conta pior.
Roseana

1 - "Senado paga viagem para amigos de Roseana. O pagamento de passagens aéreas para amigos e assessores da senadora Roseana, líder do governo no Congresso, causou discussão. A senadora comprou os bilhetes com a cota que recebe para se deslocar de Brasília ao Maranhão."

2 - "E hospedou parte do grupo na residência oficial da presidência do Senado. A assessoria de Roseana disse que seis pessoas estiveram em Brasília a convite da senadora para discutir a política maranhense."
Cassino

3 - "Ao longo do dia, Roseana e seus assessores entraram em contradição. Primeiro, ela disse que pagara a passagem de dois assessores, enquanto sua assessoria informava que seriam seis, e que quatro deles ficaram hospedados na residência oficial do Senado, de sexta a domingo".

4 - "Lá no Maranhão - explicou Roseana -, de vez em quando eu jogo baralho com um grupo de amigos. Como eu não estou podendo me deslocar para lá, estão dizendo que eu trouxe a mesa do jogo para Brasília. Isso é uma loucura! O site publicou a lista das pessoas com quem eu jogo. Mas a lista de quem teria usado passagens está errada." ("Folha".)

Nos tempos do cartão do Banco Santos em Las Vegas era melhor.
Oliveira

O saudoso e talentoso Oliveira Bastos, amigo de Sarney e meu, dizia que a maior redação do Brasil era o gabinete de Sarney no Senado. O escândalo de 181 diretores para 81 senadores não é invenção de Sarney. Mas ele sempre participou. É inacreditável o que a "Folha" publica:

"Até mesmo funcionários do Senado não concursados têm cargo de diretor. É o caso de Tânia Fusco, assessora de imprensa da senadora Roseana Sarney. Por indicação de Sarney, ela é diretora da Subsecretaria de Divulgação desde 2003. Ela disse que sempre acompanhou a senadora, mas que seu cargo é de diretora e sua função é atender a imprensa, embora essa função seja feita por outras jornalistas." (É a redação do Oliveira Bastos.)

postado por Blog do Paim às 04:06 | 0 Comentários
Quinta-feira, 19 de Março de 2009
Senado exonera 50 diretores, recolhe carros oficiais e estuda redução de terceirizados

Em meio à onda de denúncias que arranhou a imagem do Senado nas últimas semanas, o primeiro-secretário da instituição, Heráclito Fortes (DEM-PI), determinou nesta quinta-feira a exoneração imediata de 50 dos 181 diretores que integram o comando da Casa Legislativa.

No ato assinado por Heráclito, o senador pede que o diretor-geral da instituição, Alexandre Gazineo, adote as "providências necessárias" para a imediata exoneração de ocupantes de 50 cargos de direção ou função equivalente.

"Estamos procurando desde o primeiro momento tomar medidas para que os ajustes sejam feitos, inclusive tendo em vista a crise econômica que o país passa e o Senado tem por obrigação, numa hora como essa, dar o exemplo. Evidentemente que a sucessão de fatos, o interesse da opinião pública através da imprensa em querer resultados dos fatos ocorridos, tem nos tirado do foco dos nossos objetivos", afirmou.

No ato, que entra em vigor amanhã, Heráclito também determina que o diretor-geral recolha os carros oficiais utilizados pelos diretores da Casa --com exceção da diretoria-geral e da Secretaria Geral da Mesa.

O texto também pede que Gazineo apresente um plano de redução adicional de cargos de direção no Senado. Heráclito determina, no ato, a redução de quadro de servidores terceirizados lotados na área de Comunicação Social --que reúne quase 20 diretores na Casa.

O democrata pede que o diretor, após reduzir o número de terceirizados na área de comunicação do Senado, determine a nomeação imediata dos candidatos aprovados em concurso realizado pela Casa para o setor. "Após a nomeação das áreas de comunicação social, o diretor-geral deverá adotar as providências necessárias para a nomeação dos aprovados em concurso público das demais áreas", diz o ato assinado por Heráclito.

Protestos

Irritados com as denúncias contra o Senado, vários parlamentares ocuparam a tribuna da Casa nesta quinta-feira para protestar contra o excesso de diretores da instituição. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), disse que o Senado conseguiu produzir até "diretor de rinha de galo" --numa ironia aos 181 servidores que ocupam cargos de diretoria.

"Se vierem todos os diretores ao plenário, há um tremor de terra, eles não podem vir. Tem diretor de garagem, de rinha de galo, deve ter de tudo. Reclamo do governo do presidente Lula que tem 37 ministros. Mas o Brasil funciona com 20 ministérios, sim", afirmou o tucano.

Para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), as denúncias desestimulam os parlamentares a permanecerem na Casa. "O que está ocorrendo no Senado hoje é uma coisa que denigre o currículo dos que aqui estão, que são pessoas com história. Neste momento, não está valendo muito a pena ser senador, não. Perante a opinião pública, há exemplos que são postos que nivelam por baixo a Casa."

O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) afirmou que a instituição precisa passar por uma ampla reforma. "Eu estou envergonhado. A gente precisa ajudar o presidente Sarney a promover uma profunda reforma. Defendo que somente dez diretores sobrevivam a essa limpeza", afirmou.