domingo, 24 de abril de 2011

Nelson Werneck Sodré completaria 100 anos no dia 27 de abril de 2011

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Nelson Werneck Sodré (Rio de Janeiro, 27 de abril de 1911 - Itu, 13 de janeiro de 1999) foi um militar e historiador brasileiro.

Trajetória Inicial

Nelson Werneck Sodré nasceu no Rio de Janeiro, antigo município neutro e então capital federal do Brasil, em 27 de abril de 1911. Após estudar em escolas públicas e em alguns internatos, ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro, em 1924, e na Escola Militar do Realengo, em 1930. Concluído o curso em 1933, fez a 'declaração de aspirantes' em janeiro de 1934 e logo em seguida foi designado para servir no Regimento de Artilharia de Itu, o tradicional Regimento Deodoro.
Sua estréia na grande imprensa ocorreu em 1929, com a publicação do conto "Satânia", premiado pela revista O Cruzeiro. Em outubro de 1934 começou a colaborar no Correio Paulistano. Dois anos depois tornou-se, em sua própria opinião, "um profissional da imprensa" , passando a assinar o rodapé de crítica literária naquele periódico e a ser remunerado pelos artigos publicados.
Entre 1938 e 1945 publicou algumas centenas de artigos e sete livros: História da Literatura Brasileira , em 1938; Panorama do Segundo Império, em 1939; a segunda edição de História da Literatura Brasileira, em 1940; Oeste, em 1941; Orientações do Pensamento Brasileiro, em 1942; Síntese do Desenvolvimento Literário no Brasil, em 1943; Formação da Sociedade Brasileira, em 1944 e O que se Deve Ler para Conhecer o Brasil, em 1945.
Até o início da década de 1950, Nelson Werneck Sodré teve uma brilhante carreira militar: chegou a ser instrutor na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, onde lecionava História Militar.
Em 1951, foi desligado da Escola de Estado-Maior devido às posições políticas que assumiu publicamente: por participar da diretoria do Clube Militar, empenhada na luta pelo monopólio estatal da pesquisa e lavra do petróleo no Brasil, e pela publicação, sob pseudônimo, de um artigo na Revista do Clube Militar, claramente identificado com as posições sustentadas à época pelo PCB, em que combatia a participação do Brasil na Guerra da Coréia.
Apesar de suas ligações com o então Ministro da Guerra, general Newton Estillac Leal, que presidira o Clube Militar durante a Campanha do Petróleo, Nelson Werneck Sodré teve de conformar-se em postos de pouco relevo: como oficial de artilharia numa guarnição em Cruz Alta, interior do Rio Grande do Sul, e numa Circunscrição de Recrutamento no Rio de Janeiro (lotação considerada punitiva, à época).
Em 25 de agosto de 1961, Sodré foi promovido, por antiguidade, a coronel, último posto da carreira militar, no Exército. Em conseqüência, foi designado para o Quartel General da 8ª Região Militar, em Belém (Pará). Em sinal de protesto, solicitou a sua passagem para a reserva.
Durante a crise gerada pela renúncia de Jânio Quadros, Nelson Werneck Sodré ficou preso por 10 dias por se se opor à tentativa do golpe que pretendia impedir a posse do vice-presidente eleito, João Goulart. Com a posse de Goulart, sob o regime parlamentarista, seu pedido de passagem à reserva foi despachado, anulado e, mais uma vez, Sodré foi classificado para servir na capital do Pará: agora, numa Circunscrição Militar.
Pela segunda vez, requereu seu afastamento do serviço ativo do Exército e consumou a sua exclusão das fileiras militares.

No ISEB

No primeiro trimestre de 1954, Sodré foi convidado por Alberto Guerreiro Ramos a participar do IBESP - Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política, que oferecia cursos, em nível de pós-graduação, no auditório do Ministério da Educação e Cultura.
O IBESP foi, de acordo com Sodré, a “fase preliminar do ISEB” , e sua convivência com os ibespianos só teve início em 1955, após o seu retorno para o Rio de Janeiro, convidado pelo general Newton Estillac Leal para servir em seu Estado-Maior.
Ao final do governo Café Filho, em 1955, o IBESP passou por uma reformulação que alterou o seu nome para ISEB - Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Como parte de seus integrantes se alinhara à candidatura de Juscelino Kubitschek, e a instituição “(...) não tinha sede nem estrutura, continuou, sob outro título, o novo, aquilo que o IBESP vinha fazendo”.
Com o início do governo JK, em 1956, a estrutura do ISEB foi fortalecida e se tornou mais estável, embora os cursos ainda fossem ministrados no auditório do Ministério da Educação e Cultura. A partir do ano seguinte, o Instituto passaria a ocupar a sede que lhe havia sido destinada, no bairro de Botafogo.
No ISEB, a problemática do desenvolvimento brasileiro delineou, desde o início do governo Kubitschek, a existência de duas tendências: a que sustentava a participação de capitais estrangeiros na economia brasileira para acelerar o ritmo de sua expansão, e a que defendia o caráter autônomo do processo de industrialização no país, admitindo a presença do capital estrangeiro apenas sob o rígido controle do Estado.
Os conflitos provocados entre os adeptos dessas duas orientações causaram a exclusão dos chamados ‘entreguistas’ do ISEB, em 1960. Nelson Werneck Sodré se identificava com a tese do desenvolvimento autônomo de nossa economia. Através de estudos direcionados para a relação entre o colonialismo e o imperialismo, para a formação e constituição das classes sociais no Brasil e, em especial, para a discussão de quem seria o povo brasileiro e o papel que poderia desempenhar na luta anti-imperialista, nosso autor orientou a sua produção intelectual para a identificação da classe ou da aliança de classes que poderia encaminhar o processo revolucionário no país.
A participação no ISEB também assinalou o retorno de Nelson Werneck Sodré à publicação de livros. Em 1957, foram lançados As Classes Sociais no Brasil , curso pronunciado no IBESP em 1954, e O Tratado de Methuen. Em 1958, foi a vez de Introdução à Revolução Brasileira. Em 1959, e a pedido de Umberto Peregrino, que dirigia a Biblioteca do Exército, Sodré organizou uma antologia de episódios militares brasileiros, Narrativas Militares.
No ano seguinte, veio a público a terceira edição de História da Literatura Brasileira, uma obra nova que conservou apenas o título de seu livro de estréia, e a segunda edição de O que se Deve Ler para Conhecer o Brasil, obra de referência que também guardou apenas o nome, quando comparada à edição original.
Em 1961, nosso autor lançou uma coleção de ensaios, A Ideologia do Colonialismo. Em novembro desse mesmo ano, no posto de General-de-Brigada do Exército brasileiro, Sodré solicitou a sua transferência para a reserva (ele não chegou a exercer o generalato na ativa). Com sua passagem à reserva, Nelson Werneck Sodré passou a se dedicar exclusivamente ao trabalho intelectual.
Desde a criação do ISEB, em 1956, até a sua extinção, com o golpe de 1964, Sodré era responsável pelo Curso de Formação Histórica do Brasil. Desse curso resultou, após diversas reformulações, o livro Formação Histórica do Brasil, publicado em 1962. A interpretação da formação social brasileira apresentada na Formação Histórica do Brasil também inspirou a produção de material para-didático destinado a professores do ensino médio, a História Nova do Brasil, elaborada com a colaboração dos estagiários do Departamento de História do ISEB.
Ainda em colaboração com os estagiários do Departamento de História do ISEB, que se encarregaram da pesquisa, Nelson Werneck Sodré escreveu em poucos dias o livro Quem Matou Kennedy , lançado em dezembro de 1963, duas semanas após o assassinato do presidente dos EUA.
O livro Formação Histórica do Brasil conheceu uma versão condensada. Suas teses centrais foram expostas em Evolución Social y Económica del Brasil, publicado na Argentina em 1965, mas com data de 1964. A edição brasileira dessa obra foi lançada somente 1988 e reproduz integralmente o texto original. Conserva, inclusive, as notas de rodapé elaboradas pelo tradutor argentino, as quais, no julgamento de Sodré, “(...) parecem ruins”.

Após o golpe de 1964

Duas semanas após o golpe de 1964, Nelson Werneck Sodré teve os seus direitos políticos cassados por dez anos pela Junta Militar que assumiu o poder. Sofrer a cassação não tinha desdobramentos apenas político-eleitorais. A posterior regulamentação das punições ampliou os seus efeitos, impedindo-o de lecionar e de escrever artigos para a imprensa.
Optou por não se exilar e dedicou-se, nos anos seguintes, a resistir da única forma que lhe parecia ser possível: escrevendo. Como os demais meios de comunicação lhe foram interditados, passou a escrever livros. Escrevendo em período integral, e sem contar a reedições, Sodré publicou quatro títulos em 1965: Ofício de Escritor, O Naturalismo no Brasil, As Razões da Independência e A História Militar do Brasil.
Também em 1965 começaram a ser apreendidos das livrarias e depósitos das editoras alguns de seus títulos. Além da História Nova do Brasil, foram recolhidos exemplares de Quem Matou Kennedy, da História da Burguesia Brasileira e de A História Militar do Brasil. Reeditado em 1968, esse livro foi proibido de circular em 1969 e mais uma vez os exemplares disponíveis nas livrarias e na editora sofreram apreensão. A reedição dessa obra motivou um novo IPM contra Sodré.
Em 1966, nosso autor publicou uma obra de referência que vinha preparando há décadas, História da Imprensa no Brasil. Em 1967, foram lançadas as Memórias de um Soldado e a terceira edição de uma obra de referência que vinha sendo reelaborada a cada vez que era publicada, O que se Deve Ler para Conhecer o Brasil.
Em 1968, publicou quatro antologias: Fundamentos da Economia Marxista, Fundamentos da Estética Marxista, Fundamentos do Materialismo Histórico e Fundamentos do Materialismo Dialético.
Em 1970, vieram a público Síntese de História da Cultura Brasileira (escrito a pedido da direção do PCB) e as Memórias de um Escritor. Em 1974 foi a vez de Brasil: Radiografia de um modelo.
Em 1976, Introdução à Geografia; em 1978 Sodré lançou três livros, A Verdade sobre o ISEB, Oscar Niemeyer e A Coluna Prestes.
Em 1984, Vida e Morte da Ditadura; no ano seguinte, Nelson Werneck Sodré publicou três títulos, Contribuição à História do PCB, O Tenentismo e História e Materialismo Histórico no Brasil.
Em 1986 são lançados História da História Nova e A Intentona Comunista de 1935.
Em 1987, O Governo Militar Secreto e Literatura e História no Brasil Contemporâneo.
Em 1988, as Memórias de um Escritor são republicadas com o título Em Defesa da Cultura.
Em 1989, vem a público A República: uma revisão histórica, A Marcha para o Nazismo e um pequeno ensaio que assinalou a participação de nosso autor na primeira eleição direta para a presidência da república no Brasil após o golpe de 64, O Populismo, a confusão conceitual.
Em 1990 foram publicados Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil (reunião de textos elaborados no fim dos anos 1970), O Fascismo Cotidiano e mais um volume de sua memorialística, A Luta pela Cultura.
Em 1992 é publicado o penúltimo volume de suas memórias, A Ofensiva Reacionária, concluídas com o lançamento, em 1994, de A Fúria de Calibã; nesse ano, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através da Unidade Editorial, mantida pela Secretaria Municipal de Cultura, publicou o livro O Golpe de 64.
Em 1995, a Graphia Editorial lançou A Farsa do Neoliberalismo, seguido pela reedição de seis obras do historiador: Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil, Panorama do Segundo Império, Literatura e História no Brasil Contemporâneo, Formação Histórica do Brasil (com posfácio de Emir Sader), História da Literatura Brasileira (com posfácio de André Moisés Gaio) e As Razões da Independência (com posfácio de Ricardo Maranhão).
Em 1998, foi publicado Tudo é Política, 50 anos do pensamento de Nelson Werneck Sodré em textos inéditos em livro e censurados, organizados por Ivan Alves Filho.

Ações
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domingo, 10 de abril de 2011

MAPI organiza debate para avaliar o 47° aniversário do golpe militar de 1964 (por Osvaldo Maneschy)














“Não me arrependo de nada do que fiz e se tivesse que fazer tudo de novo pelo Brasil e pelo Presidente João Goulart, eu faria”, afirmou o ex-deputado gaúcho Ney Ortiz Borges, 87 anos, vice-líder do Governo João Goulart no Congresso Nacional, cassado e perseguido pelo golpe militar de 1964, em palestra nesta sexta-feira (31/3) na sede nacional da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, no Centro do Rio, promovida pelo Movimento de Aposentados, Pensionistas e Idosos do PDT (MAPI).

“O Presidente João Goulart queria transformar as estruturas sociais do Brasil com as reformas de base, objetivo que perseguiu de todas as maneiras”, relatou Ortiz Borges, acrescentando que, a pedido de Jango,  viajou por todo o país pregando essas reformas.  Sobre o período conturbado disse ainda que se não tivesse ocorrido o golpe hoje o Brasil seria a maior potência do planeta. “O golpe de 64 destruiu aquele projeto fantástico”, garantiu.
HERANÇA
Emocionado, Ney Ortiz Borges passou às mãos de Maria José Latgé, presidente do MAPI, cópia de documento que lhe foi entregue pessoalmente, em 1964, pelo Presidente João Goulart, contendo uma síntese de 12 páginas do projeto das Reformas de Base, muito maior e extenso. Explicou que para ele é importante que o projeto que pretendia passar o Brasil a limpo chegue ao conhecimento das novas gerações de trabalhistas.
“Infelizmente não tivemos a alegria de implantá-las para melhorar a vida das pessoas porque veio o golpe, mas as reformas de base são atualíssimas e não podemos esquecê-las”, destacou.

Citou como exemplo a reforma agrária. “Jango, no Comício da Central, chegou a anunciar que estava desapropriando todas  as áreas contíguas às rodovias federais, 10 quilômetros de cada lado, para assentar nelas trabalhadores rurais sem terra”, lembrou.
Ortiz Borges relatou que em 2001, a pedido do então presidente do PDT gaúcho, Matheus Schmidt, falecido ano passado, fez um levantamento de todas as realizações do Governo João Goulart. Citou a criação da Eletrobrás, da Embratel; das usinas siderúrgicas Usiminas, Cosipa e Ferro e Aço de Vitória – que na sua opinião revolucionaram o setor; a criação das aposentadorias especiais para celetistas; a promulgação da Lei do 13° salário; o aperfeiçoamento da Lei da Remessa de Lucros; o fortalecimento da aplicação das Leis Trabalhistas de  Getúlio; e a mobilização nacional pelas reformas de base: a agrária, a urbana, a educacional, a fiscal, a bancária e a administrativa.  “O Governo João Goulart caiu por causa disso”, garantiu.

Signatário da Carta de Lisboa de 1979, Ney Ortiz Borges participou do movimento para reorganizar PTB e depois o PDT, quando o TSE tirou a sigla de Brizola e a entregou a Yvete Vargas.  Ortiz Borges também passou às mãos de Maria José Latgé um papel amarelado pelo tempo contendo a lista dos componentes originais da 114ª. Zona Eleitoral de Porto Alegre, que organizou e presidiu a partir de 1981, que tinha na 11ª. posição, entre os fundadores, Dilma Roussef - atual presidente do Brasil.
Além do ex-parlamentar, o ato organizado pelo MAPI para recordar as lições que ficaram após os 47 anos do golpe militar, também contou com depoimentos de Trajano Ribeiro, primeiro palestrante;  Eduardo Chuahy, Capitão do Exército e oficial de Gabinete de Jango, na época; Eduardo Costa, ex-secretário de Saúde de Brizola, e líder da UNE em 1964; Leonel Brizola Neto, Vereador no Rio de Janeiro e o jornalista e escritor José Augusto Ribeiro, além do Vereador Jorge Mariola, de São Gonçalo, e do presidente da Fundação Leonel Brizola – Alberto Pasqualini, seção Rio de janeiro .

Trajano Ribeiro, também signatário da Carta de Lisboa, como Ney Ortiz, fez um relato sobre os antecedentes e a movimentação política que levou a deflagração do golpe militar de 64, do ponto de vista histórico, e as suas conseqüências  e implicações – detendo-se na trajetória política de João Goulart, o herdeiro político de Getúlio Vargas, do início de sua carreira política até ser deposto e, posteriormente, ser vítima da Operação Condor segundo relato de um agente da repressão preso no Uruguai.  Segundo Trajano, Jango foi morto por ordem da CIA.
No episódio da morte de Jango, Eduardo Costa pediu a palavra e lembrou que João Vicente Goulart, que não pode acompanhar o sepultamento do pai em São Borja, por estar no exterior; uma semana depois, em Porto Alegre, quase foi vítima da repressão ao final da missa de 7° dia do pai, quando cavalarianos da Brigada Militar receberam ordens de dissolver a multidão que saía da missa e João Vicente, na época ainda criança, quase foi atropelado pelos cavalos.

João Vicente Goulart foi o grande ausente da reunião, por não ter tido condições de se deslocar de Brasília, onde vive atualmente, para o Rio de Janeiro.
O Vereador Leonel Brizola Neto (PDT), outro orador,  fez questão de assinalar que ouvindo Ney, Trajano Ribeiro,  Eduardo Costa e Chuahy sentia a importância e o peso histórico da legenda do PDT.  “Sinto-me honrado de estar aqui, participando de tudo isto, ouvindo essas pessoas darem os seus depoimentos e lamento que não tenha aqui ninguém da direção nacional. Acho que precisamos discutir os rumos do PDT porque precisamos, mais do que nunca, retomar o fio da História”, disse.

Leonel Brizola Neto disse que não poderia deixar de lembrar, naquela reunião, a história de seu outro avô, Carlos Daudt, pai de sua mãe Nereida, oficial da Força Aérea Brasileira que, servindo na base aérea de Canoas, no episódio da Legalidade, não atendeu à ordem dos golpistas de bombardear o Palácio Piratini, onde estava Brizola e por isso foi perseguido.

 “Meu avô, por sua atitude patriótica em 61, foi preso e torturado em 1964 e proibido de fazer o que mais gostava na vida, voar”. Brizola Neto lembrou também que o seu avô, de rígida formação militar, acabou morrendo de Alzheimer depois de uma vida dificil.  “Meu avô sofreu muito e lembro que ele nunca conseguiu externar com palavras as torturas que sofreu porque ficava muito emocionado e se calava”, relatou Brizola Neto. 
Até por conta do peso histórico das pessoas que militam no PDT, acrescentou o Vereador, o PDT não pode ter lideranças burocráticas e tem que estar permanentemente voltado para as suas bases, a sua história e a sua militância.  “Estou na política por causa dessa história de lutas”, confessou Leonel Brizola Neto.

A reunião, que começou às cinco da tarde, só terminou às nove da noite após vários dos presentes se manifestarem. Entre os presentes estava o ex-deputado Feliciano Araújo, um dos fundadores da Ala Moça do antigo PTB, onde desempenhou o cargo de Secretário Geral, enquanto Ney Ortiz Borges ocupava a presidência.
Na discussão, entre outros pontos, foram discutidas políticas públicas para as áreas da educação,  de segurança pública e da Juventude. Chuay e Eduardo Costa fizeram relatos sobre as relações do Governo Goulart com os estudantes, repassando episódios ocorridos, falando do peso que as organizações estudantis tinham na época, no âmbito do governo central. A participação do PDT no governo de Sérgio Cabral também foi abordada, como também a questão da Educação em horário integral.
Antes do término da reunião, Maria José Latgé apresentou aos presentes o N° 1 das “Cartilhas Trabalhistas” editadas pelo Mapi, esta sobre o Governo João Goulart, editada pela Nitpress,  com texto do jornalista José Augusto Ribeiro e vendida a R$ 5,00; e anunciou para junho o lançamento da Cartilha ° 2, sobre Leonel Brizola.

sábado, 2 de abril de 2011

As razões do golpe de 64 (Emir Sader)

 

As razões do golpe de 64

As visões descritivas dos grandes acontecimentos históricos tendem a reduzi-los a contingências – a Primeira Guerra, a um episodio menor – ou a idiossincrasias – a personalidade de Hitler. No caso do golpe no Brasil, a imprensa golpista da época se centrava nos supostos “abusos” do governo Jango, que teriam levado à intervenção dos militares para “salvar a democracia” – lugar comum nos editoriais da época.

O movimento que desembocou no golpe de 1964 na realidade vem de longe. Podemos remontá-lo ao começo da Guerra Fria, no fim da Segunda Guerra e no começo do segundo pós-guerra, quando os EUA reciclavam sua definição de inimigos do bloco derrotado na guerra, para a URSS. Não seria possível explicar a brutalidade das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, sem levar em conta a nova atitude norteamericana de mostrar para a URSS sua superioridade nuclear, que iria definir o começo do novo período. De capa da revista Times há poucos anos antes, como herói da luta pela democracia, Stalin se tornava a encarnação do mal que haveria que evitar: o “espectro do comunismo”.

Foi nesse momento que os EUA elaboraram a Doutrina da Segurança Nacional, que propunha que os Estados se transformassem em quarteis generais na luta contra a “subversão” e o “comunismo”. Todo tipo de conflito, de divergência, de expressão de descontentamento social seria classificado como “subversão”, expressão de interesses estrangeiros e deveria ser extirpado. A instalação de ditaduras militares, que blindassem os Estados, seria o objetivo ideal.

Da geração de militares brasileiros que foi à guerra da Itália, Humberto Castello Branco e Golbery do Couto e Silva, estreitaram ali laços com as tropas nortemamericanas e, na volta para o Brasil, fundaram a Escola Superior de Guerra, que passou a ser o lugar estratégico de formulação, difusão e formação de pessoal das FFAA baseado na Doutrina de Segurança Nacional.

Os anos 50 foram anos de ensaios de golpe, contra Getúlio e contra JK, depois na renúncia do Jânio. Enquanto isso o Brasil crescia, distribuía renda, afirmava uma politica internacional própria. Os investimentos norteamericanos foram voltando com força – depois do longo interregno desde a crise de 1929-, até que, com a chegada da indústria automobilística, deslocaram para si o eixo da economia e condicionaram fortemente o consumo de luxo. Mas ao mesmo tempo o mercado interno se expandia na direção do consumo de bens de consumo popular nas grandes cidades e também no campo, onde se estendia o processo de sindicalização rural, pela primeira vez.

As duas dinâmicas se chocavam: a da democratização do consumo e a do consumo de luxo junto à exportação. A ditadura resolveu o conflito a favor desta. Além da brutal repressão que desatou contra tudo o que significasse democracia, desde o começo o regime militar teve um caráter de classe muito definido: interveio em todos os sindicatos, perseguiu a seus lideres e determinou um arrocho salarial, o que significou uma situação extraordinariamente favorável à superexploração dos trabalhadores e à acumulação favorável ao grande capital nacional e estrangeiro.

Ao contrario do que alguns pensavam, a ditadura não significou o retrocesso da expansão economia e da industrialização no Brasil. O fim da democracia e a imposição da ditadura foram funcionais ao capitalismo. Brecaram as demandas populares mediante o arrocho, bloquearam as demandas salariais pela intervenção e repressão aos movimentos populares, enquanto abria a economia ao capital estrangeiro, liberava o envio de royalties ao exterior e favorecia de todas as maneiras a concentração em favor das grandes empresas nacionais e estrangeiras.

O chamado “milagre” tinha um santo: a ditadura, a repressão, os golpes ao movimento popular e à democracia. Foi uma ditadura articulada com os planos da guerra fria dos EUA e com o modelo de acumulação do grande capital – que se desenvolveu em base à concentração no consumo de luxo, na superexploração dos trabalhadores e na exportação. Avançou o Brasil desigual, injusto, de concentração de renda, de exclusão social, de prepotência, de terror, de poder do capital, dos latifundiários, dos donos da mídia privada. O Brasil que recentemente começamos a superar, daí a oposição dos herdeiros da ditadura.

Postado por Emir Sader às 02:27