quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Análise: Recebimento de restos mortais por Dilma simboliza transformação do PT
 
LINCOLN SECCO
ESPECIAL PARA A FOLHA

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O recebimento oficial dos restos mortais de João Goulart pela presidente Dilma Rousseff não deixa de ser ato de justiça histórica. Mas também simboliza o transformismo pelo qual passou o PT.

O partido nasceu atacando Getúlio Vargas, Jango e a estrutura sindical do Estado Novo. O "populismo" era entendido como a relação entre o líder e as massas sem organização. Tudo mudaria com o PT. Apesar da liderança de Lula, ele estaria apoiado num partido operário. Os "pelegos" seriam superados pelo "novo sindicalismo".

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Sabemos hoje que a crítica era equivocada. Os pobres se organizam, embora nem sempre segundo os valores tradicionais da esquerda. Foi sua luta que exigiu o voto e a CLT.

A relação entre "povo" e Estado se expressava no líder carismático. Este "defendia" os trabalhadores, mas não tolerava que ameaçassem a ordem. Podiam ter sindicatos, mas com uma burocracia sustentada pelo imposto sindical. Aos inconformistas sobrava a repressão: é incontável o número de comunistas mortos entre 1930 e 1964, antes mesmo do regime militar.

Hoje o PT é diferente. O novo sindicalismo envelheceu com o imposto sindical; a crítica à ditadura cedeu lugar à anódina "apuração da verdade histórica"; o lulismo envolveu o petismo e sua ideologia é um sistema de conciliação de classes baseado na ideia de que os de baixo rejeitam mudanças radicais.

O "populismo" expulso pela porta da frente voltou pelos fundos. Mas a leitura que se tem dele é a mesma. As "massas" são sempre passivas. Só que antes o fenômeno era negativo. Agora sobram citações de como Vargas foi abatido pela direita...

Mas o lulismo se sustenta eleitoralmente pelo pouco que ainda carrega do velho petismo, abrigado só em setores minoritários do PT e ironicamente em discursos de Lula após sua saída do Planalto.

O fato é que milhões de pessoas ingressaram no consumo, há pleno emprego e o salário mínimo teve crescimento real exatamente como pedia o 5º Encontro do PT em 1987. Já as reformas estruturais do programa histórico do partido foram abandonadas.

Como ontem, os resultados de uma luta coletiva foram sequestrados pelo líder bafejado por vendavais de votos. Mas eis que em junho de 2013 apareceu o inferno da mobilidade urbana, da falta de educação, da violência policial, da saúde elitista e da política imutável. As novas demandas não cabem mais nos limites do lulismo.

Que o PT homenageie Jango é bom. Poderia começar estudando suas "reformas de base" e o famigerado dispositivo militar que ele acreditava ter para resistir ao golpe de 1964.

LINCOLN SECCO é professor de história contemporânea na USP e autor de "A História do PT" (Ateliê).

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Após onze horas de trabalho, exumação de Jango não tem previsão para acabar

FELIPE BÄCHTOLD
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO BORJA (RS)

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Onze horas após o início da exumação do corpo do presidente João Goulart, em um cemitério em São Borja (RS), os responsáveis pelo procedimento informaram que não há um prazo para a conclusão e disseram que não podem "apressar" os trabalhos.

A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) afirmou que é preciso seguir aspectos éticos que são "morosos". "O período avançado de trabalho era algo que já contávamos", disse a ministra.

Maria do Rosário diz que exumação de Jango é uma 'missão de Estado'
Começa a exumação do presidente Jango em São Borja (RS)
Exumação dos restos mortais de Jango lota hotéis de São Borja (RS)

O perito cubano Jorge Perez, reitor da Universidade de Havana, disse que não há "nenhuma dificuldade" no procedimento, mas determinadas tarefas são lentas, como medições e perfurações na sepultura.

Exumação de João Goulart

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Lucas Carvalho/Divulgação/Prefeitura de São Borja
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Homens montam estrutura de apoio em torno de jazigo para exumação de restos mortais de Jango, em São Borja (RS)

"Estão seguindo um protocolo que foi aprovado. Não estamos fazendo nenhum improviso", declarou Perez. "Como peritos, nós sabemos quando começamos, mas não sabemos quando terminamos. Temos que periodicamente parar, conversar. Não é como alguém pode ter imaginado, chegar aqui e, em cinco minutos, sair com os restos [mortais] do presidente."

EXUMAÇÃO

Os procedimentos começaram por volta das 7h30 desta quarta-feira (13), acompanhados por familiares de Jango e autoridades, como os ministros Maria do Rosário e José Eduardo Cardozo (Justiça).

A expectativa inicial era que a urna com os restos mortais do presidente deixasse o cemitério no meio da tarde, de carro, em direção ao aeródromo de São Borja, de onde partiria de helicóptero para a base militar em Santa Maria, também no RS.

No trecho de carro, a população poderia prestar homenagens ao presidente, deposto pelo golpe militar de 1964.

Os restos mortais passarão a noite em Santa Maria e, na quinta (14) de manhã, serão levados em avião da FAB para Brasília.

O objetivo da exumação é tentar descobrir se Jango morreu de infarto, conforme a versão oficial dos fatos, ou se foi envenenado enquanto estava no exílio na Argentina, conforme suspeitas do governo e de parentes. Na época da morte, há quase 37 anos, não foi realizada autópsia.

Editoria de Arte/Folhapress
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